Manipular palavras


Manipular palavras para manipular vidas

Indefinição semântica pretende ocultar a realidade biológica 

O ato de manipular, e sobretudo o destruir, um embrião humano antes da implantação no útero - até ao 14º dia aproximadamente - tem uma carga ética altamente negativa, pois na realidade não é outra coisa senão o manipular ou destruir uma vida humana nas suas primeiras etapas. Por isso, os que utilizam as técnicas de reprodução assistida ou a clonagem estão a fazer um grande esforço para retirar ao embrião, nesses primeiros dias da sua vida, todo o valor ontológico que tem uma vida humana, para assim atuar sobre ele sem nenhuma responsabilidade ética. 
E nessa tarefa uma das principais armas é a indefinição semântica. 
O primeiro grande passo semântico deu-se em 1987, quando a Comissão Warnock (Inglaterra) aplicou o termo "pré-embrião" para designar o embrião humano na sua etapa pré-implantatória. Este é um termo absolutamente convencional, pois, no que se refere à sua realidade biológica, não existe nenhuma diferença entre um embrião de 14 dias e outro de 16, dois dias depois da sua implantação. Recentemente, tendo em conta as recomendações da Comissão Donaldson ao governo britânico, para que permitisse a clonagem terapêutica, dá-se mais um passo para disfarçar semanticamente a natureza do embrião humano. Assim, o terceiro ponto dessa comunicação afirma: "As pessoas cujos óvulos ou espermatozóides estejam implicados na criação do embrião destinado a experimentação deverão dar o seu consentimento por escrito, autorizando a que se utilizem os hemacitoblastos para investigação". 
Como se comprova, o embrião ainda não implantado é aqui denominado de hemacitobalsto, que na realidade não é mais nem menos do que o nome atribuído a um embrião nas suas etapas iniciais, quando tem aproximadamente 12 células; mas, sem dúvida, para o grande público não é o mesmo atuar sobre um embrião humano ou sobre um hemocitoblasto. Sobre aquele existem graves problemas éticos para atuar; sobre este não parece que existam barreiras éticas definidas, pela simples razão de que não se sabe bem o que significa esse nome e, sobretudo, porque não se relaciona com um ser humano vivo. 
É este portanto, outra nova tentativa semântica de obscurecer a natureza biológica do embrião humano. De todas as formas, não é este o único campo onde, pela indefinição semântica se trata de ocultar a realidade biológica de um ato médico concreto. Assim, ao aborto foi-lhe atribuído o nome de "Interrupção Voluntária da Gravidez"; à pílula abortiva RU-486, "reguladora da menstruação", etc. É dizer que existe uma intencionada tendência de disfarçar aquelas palavras que em si mesmas promovem o debate ético mediante outras que, obscurecendo o verdadeiro significado da natureza do ato que se realiza, mitiguem o juízo ético. Assim, há que estar precavidos, pois atentar contra um embrião de 12 dias é o mesmo que o fazer sobre um pré-embrião ou um hemocitoblasto, e em todos os casos não é outra coisa que atentar contra uma vida humana, e isto todos sabemos que valoração ética merece.