Pós-aborto
Que é o síndrome pós-aborto?
por Wanda Franz,
Doutorada em Recursos Familiares na Universidade de West Virginia O que sabemos das
conseqüências prejudiciais do aborto para a mulher? Aqueles que aconselham e
executam abortos sempre afirmaram não haver efeitos psicológicos
desfavoráveis importantes decorrentes do aborto e além disso nenhum trauma a
longo prazo. O problema com tais afirmações é que essas pessoas,
relacionadas ou não com clínicas de aborto e outras, adeptas dessa prática,
nunca estão em condições de avaliar na mulher as conseqüência que se
seguem ao aborto. Imediatamente após o ato, o pessoal clínico simplesmente
manda a mulher para casa, e se ela a vier ter problemas, deverá ir procurar
auxílio em outro lugar qualquer. Uma
investigação mais sistemática demonstra que todas as reações perigosas
ao aborto ocorrem tardiamente. Este padrão de reação retardada fez com que
seja muito mais difícil de delimitar, avaliar e caracterizar o problema. A
par disso, a comunidade de saúde mental tem sido muito lenta em reportar as
reações desfavoráveis ao aborto. Eu (Wanda Franz) sou de opinião que o
aborto é um procedimento traumático, que tem repercussões negativas para a
mulher, mas cujas manifestações objetivas podem ser retardadas. Recentemente
terapeutas têm observado pavores irracionais e depressões ligadas às
experiências abortivas e rotularam o problema como SÍNDROME PÓS-ABORTO
(SPA). O Dr. Vincent Rue
comparou-a à DESORDEM ANSIOSA PÓS-TRAUMÁTICA (DAPT), a qual a comunidade
psiquiátrica reconhece como uma reação a longo prazo encontrada nos
veteranos da Guerra do Vietnam, que subitamente exibem comportamento
patológico anos após a experiência vivida na guerra. O Dr. Rue acredita que
a SPA‚é uma forma de DAPT. É significativo o fato de a Associação
Americana de Psicólogos ter levado doze anos para reconhecer oficialmente a
DAPT como uma entidade clínica. Uma questão
importante é: - todas as experiências abortivas são automaticamente "estressantes"
ou apenas algumas mulheres têm problemas? Se apenas algumas mulheres
sofrerão da SPA quais são as características daquelas mais susceptíveis? Essas são
questões que não podem ser completamente respondidas agora. O Dr.Rue
acredita que existam várias categorias de reações. Que algumas mulheres
respondem com grande trauma, outras com reações moderadas, enquanto que um
terceiro grupo pode vir a nada sofrer posteriormente. A terapeuta Terry Selby,
de outro lado, acredita que cada aborto produz um trauma na mulher. O aborto é,
antes de tudo, um procedimento físico, o qual produz um choque no sistema
nervoso e que deve provocar um impacto na personalidade da mulher. Além das
dimensões psicológicas, cada mulher que se submeteu a um aborto deve encarar
a morte de seu filho que não nasceu como uma realidade social, emocional,
intelectual e espiritual. Tanto Selby como a Dra. Anne Speckhard trabalharam
com mulheres que tentaram ignorar os efeitos do aborto e ambos acreditam que
quanto maior a rejeição, maior a dor e a dificuldade quando a mulher resolve
finalmente enfrentar a realidade da experiência abortiva. Para entender
esta descoberta e ter alguma base para raciocínio e pesquisa da SPA, é
necessário que entendamos a orientação teórica dos terapeutas e os seus
"pressupostos". A primeira premissa é que existe um processo
inconsciente em ação em cada pessoa e que controla os estados emocionais e
em última análise o comportamento. Se uma verdade é por demais
desagradável, é possível aos seres humanos suprimir ou reprimir a realidade
na parte inconsciente de suas mentes de forma a não ter que conscientemente
pensar nela. Isto‚é uma faculdade muito importante porque nos protege da
necessidade de pensar constantemente sobre acontecimentos muito dolorosos. Uma segunda
premissa postula que mesmo sendo possível reprimir fatos reais eles, apesar
disso, continuam a afetar os nossos estados emocionais e o nosso
comportamento. Quando existe excesso de rejeição a dor reprimida
traumatiza-nos de alguma outra forma. De acordo com os clínicos, quando as
mulheres que abortaram rejeitam ou reprimem a sua experiência, os
desajustamentos podem incluir grande descontrole emocional quando próximas a
crianças, um medo irrealístico a médicos, uma incapacidade de tolerar um
exame ginecológico rotineiro, ouvir o som de um aspirador de pó ou serem
sexualmente estimuladas, etc. O fato
importante a ser entendido sobre essas manifestações é que elas são
reações irracionais a acontecimentos perfeitamente normais; e as mulheres
não têm consciência da sua ligação com a experiência abortiva. É
somente através da terapia que a ligação freqüentemente emerge. Assim, a
partir dessa perspectiva teórica, admite-se que mesmo mulheres lesadas pelas
suas experiências abortivas podem, de boa fé, alegar não terem sofrido
reações adversas já que os sentimentos foram reprimidos, não havendo
noção consciente dos mesmos. Além disso, de acordo com a mesma teoria,
quanto maior a repressão, quanto maior a rejeição, maior é o dano à
personalidade da mulher. Como foi
mencionado antes, a terapeuta Terry Selby acredita que quanto maior for a
negação, mais graves serão as reações e mais doloroso será o
tratamento. David Reardon, fez um levantamento a mais de 200 mulheres
pertencentes ao movimento MULHERES VITIMADAS PELO ABORTO (WEBA), e também
encontrou evidências nas suas observações de que quanto mais tarde a
realidade é admitida, mais difícil é a resolução do problema. Assim, a
conclusão é que cada aborto tem efeitos prejudiciais sobre a mulher. Os defensores do
aborto advogam que somente as mulheres com problemas psicológicos anteriores
têm dificuldade em suportar as experiências abortivas. As próprias
mulheres discordam dessa proposição. Contudo, pode ser verdade que mulheres
com problemas prévios sejam mais susceptíveis às reações mais graves. Nós simplesmente
não temos elementos para responder a essas questões de imediato. Podemos,
entretanto concluir com certeza que essas mulheres deveriam ser protegidas de
traumas futuros induzidos por experiências abortivas. Quais são os
problemas que uma mulher que provocou um aborto deve encarar? Antes de tudo e
principalmente a necessidade de enfrentar a realidade sobre o ato de provocar
um aborto. A verdade é que quando uma mulher aceita submeter-se a um aborto,
ela concorda em assistir à execução de seu próprio filho. Esta amarga
realidade que ela tem de encarar opõe-se vivamente àquilo que a sociedade
espera que as mulheres sejam: - pacientes, amorosas e maternais. Isso também
vai contra a realidade biológica da mulher, que é plasmada precisamente para
cuidar e nutrir o seu filho ainda não nascido. Assumir o papel de
"assassina", particularmente do seu próprio filho, sobre o qual ela
própria reconhece a responsabilidade de proteger, é extremamente doloroso e
difícil. O aborto é tão contrário à ordem natural das coisas, que
automaticamente induz uma sensação de culpa. A mulher, entretanto, deve
admitir a sua culpa para poder conviver com ela. Existe uma escola
de pensadores, adaptada pela maioria dos promotores de abortos, que afirma que
a admissão da culpa não é necessária. Eles sustentam que se uma mulher se
sente culpada é porque alguém "colocou a culpa nela". O que eles
sugerem é que isso acontece porque a mulher foi forçada pelos adeptos dos
movimentos Pró-Vida a "assumir uma atitude de culpa" que cria uma
dor desnecessária e que não leva a lugar algum. Presumem eles que a culpa
não emerge do interior da mulher mas ao contrário é forçada para dentro
dela. Contudo, a experiência das mulheres que se submeteram a abortos não
está de acordo com essa afirmação. Ao contrário, as mulheres pertencentes
ao movimento de MULHERES VITIMADAS PELO ABORTO relatam que a culpa se
manifestou e cresceu com a própria experiência abortiva, foi parte da
reação própria ao aborto e não infundida nelas por outras pessoas. A primeira
providência enfatizada pelos clínicos que trabalham com mulheres que se
submeteram a abortos é fazer com que elas chorem pelo filho perdido. A
realidade é que uma criança morreu e a resposta humana natural à morte é a
tristeza. Se a mulher é impedida de assim reagir, ela terá dificuldade de
encarar a realidade da experiência abortiva. Entristecer-se significa que ela
tem noção do seu filho e que ela está a chorar por uma determinada pessoa
que morreu. Obviamente isto é mais difícil para uma criança que nunca foi
vista. Era um menino ou menina, qual a cor dos cabelos e dos olhos que ele ou
ela teriam? O problema é ainda mais complexo no caso do aborto porque o corpo
da criança é geralmente
mutilado e é difícil para a mulher pensar na criança cujo corpo não mais
existe. O Dr. E. Joanne
Angello compara isso ao problema que enfrentam os pais de uma criança que
teve morte violenta e cujo corpo não é encontrado, impedindo que ele seja
velado ou enterrado. Como se pode resolver o problema? Em primeiro lugar, a
mulher deve admitir que a criança está morta, de maneira que ela possa
chorar por ela. Para chegar a este ponto a mulher tem que quebrar as suas
rejeições para permitir o reconhecimento da culpa. A culpa pode ser então
utilizada terapeuticamente para ajudá-la a aceitar o fato de que ela errou,
pedir perdão e ser curada. Os terapeutas
desenvolveram estratégias diferentes para ajudar a mulher. Por exemplo,
Speckhard desenvolveu uma conduta fazendo com que a mãe visualize o seu bebê
dando-lhe uma boneca para representar o filho que morreu. Ela é encorajada a
dar um nome à boneca e falar com ela sobre os seus sentimentos e tristeza. Isto dá-lhe uma
oportunidade de se "desculpar" com o bebê morto pelo sucedido e
começar a prantear a criança perdida. A abordagem de
Selby requer que a mulher exteriorize a dor de sua experiência. Ela acredita
que a mulher deva admitir como reais e libertar as emoções contidas e que
nunca foram expressas por terem sido reprimidas pela rejeição. Isto pode ser
um procedimento emocionalmente muito doloroso. Uma abordagem inteiramente
diferente é contudo necessária para mulheres com um ano ou mais de
experiência abortiva e que pedem uma alternativa ou um programa do WEBA. Elas
geralmente já admitiram a sua culpa e sofrem por ela mas necessitam de
alguém para as ajudar no sofrimento. Assim, existe uma
variedade de problemas e necessidades e uma diversidade de estratégias para
ajudar as mulheres no processo de cura. A respeito dessa diversidade existe
algo que todos os terapeutas têm em comum. Trata-se de acreditarem que a
cura deve ser encarada como um acontecimento espiritual. Frei Michael Mannion
sintetizou a sua posição quando disse: -"O Autor da vida deve curar a
perda da vida. "Somente pela aceitação do amor e perdão de Deus a
mulher pode ser curada. Qual a natureza dessa cura? Pode ela apagar o aborto
como se ele nunca tivesse ocorrido? A resposta a esta última questão é
"não". Como uma mulher do WEBA afirmou: - "Pode-se ser curada
da culpa mas a tristeza está sempre lá." O primeiro
propósito da experiência de cura é superar os efeitos adversos da culpa
não admitida mas o remorso pelo ato é para toda a vida. Por mais completa
que seja a cura, a realidade do ato em si não pode ser apagado. O bebê
abortado é uma pessoa humana real cuja ausência será sentida pela mãe e
por aqueles ao redor dela enquanto eles viverem. Os novos relacionamentos que
a mãe vier a desenvolver serão afetados pela presença da criança morta.
Crianças nascidas subseqüentemente ao aborto terão um irmão morto, cuja
realidade terá sempre um impacto nas suas vidas. A experiência clínica de
Angello com tais crianças tem sido considerável. Os pais destas crianças
caracterizam-se por uma proteção patológica aos filhos, receando
perdê-los por algum acidente ou doença. O desejo obsessivo de
outros filhos é decorrente da necessidade de terem uma criança para colocar
no lugar da que morreu. Esse comportamento é extremamente prejudicial à
evolução e desenvolvimento normal dos filhos. Assim, os efeitos
do aborto atingem a vida de cada indivíduo à volta da mulher, incluindo os
seus amores e filhos futuros. Por exemplo, como é que alguém diz a seus
próprios pais que um neto deles foi morto e que nunca participará de um
Natal ou num passeio ao jardim-zoológico? Como se diz a um filho que nasceu
depois a razão pela qual um irmão ou irmã morreram e, mais importante,
porque ele, em particular, não morreu? Como explicar o
aborto a um futuro marido que se deseja casar e ter uma família? Que dizer se a
mulher ficou estéril? Seria a esterilidade causada pelo aborto? Estas são
questões duras e que devem ser respondidas. Felizmente, a mulher que se curou
estará apta a lutar para superar esses problemas, mas nunca será fácil e
sempre será doloroso. De que maneira
são as mulheres vitimadas pelo aborto? Primeiro que tudo, nós sabemos que a
maioria das mulheres que se submeteram a abortos teriam preferido outra
solução para o problema. Elas são claramente vítimas de uma decisão
tomada por outros. Contudo, muitas mulheres realmente escolhem o aborto. Podem
elas ser consideradas vítimas? Os dados sobre a síndrome pós-aborto indicam
que a culpa e a dor inerentes ao aborto em si mesmo vitimam a mulher. Como uma
mulher, membro do WEBA disse: "-Uma vez que uma mulher se torna mãe,
ela será sempre mãe, tenha ou não nascido o seu filho. O filho morto fará
parte da sua vida por mais longa que ela seja." O aborto não é
definitivamente uma "solução fácil" de um grave problema, mas um
ato agressivo que terá repercussões contínuas na vida da mulher. É nesse
sentido que ela é vítima do seu próprio aborto e temos obrigação para com
todas as mulheres de lhes dizer esta verdade.